HISTÓRIA DO PADROEIRO

José era descendente da casa real de Davi, e dele conhecemos apenas as referências dos Evangelhos. Residia em Nazaré e era carpinteiro (um termo genérico, em Grego, designando trabalhadores manuais e/ou relacionados à construção civil). Maria havia-lhe sido prometida em casamento: “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo.” (Mateus 1:18-19).

O costume judeu na época era de que os noivos, antes da celebração das bodas, podiam já conviver; ora, José e Maria haviam feito voto de castidade, e a gravidez de Maria o deixou confuso. Mesmo sem duvidar da pureza Dela, sabia que o filho não era seu, e neste caso a lei judaica previa que as adúlteras fossem apedrejadas até a morte. Para evitar isto, José decide fugir em segredo, de modo a que ele fosse culpado, diante da lei, de abandonar a esposa grávida, o que protegeria Maria. Ela, por outro lado, certamente inspirada pelo Espírito Santo, e por humildade, não quis revelar que havia concebido por Deus, como a Escolhida para Mãe do Salvador, confiando em Deus para o que quer que acontecesse.

De fato, “Eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em um sonho, dizendo: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que Nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois Ele salvará o Seu povo dos seus pecados'. (...) José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em sua casa sua mulher” (Mt 1,21-24).

Estas são as primeiras das Sete Dores e Alegrias de São José, uma oração proposta pela Igreja: 1. Pensar em abandonar Maria / A visão do Anjo Gabriel em sonho. Perto do tempo previsto do nascimento de Jesus, por um decreto de recenseamento do imperador romano, eles foram para Belém, onde Maria deu à luz ao Menino Jesus: 2. Ver o Menino nascer numa gruta fria / O louvor dos anjos, pastores e reis Magos. Como lhe havia sido dito em sonho, Jesus é circuncidado e recebe o nome: 3. A dor da circuncisão de Jesus / A honra de dar-Lhe o nome.

A Lei obrigava ao resgate ritual dos primogênitos e à purificação das mães, de que tanto Jesus quanto Maria estavam naturalmente isentos, mas a Sagrada Família, para dar exemplo e para evitar escândalo, foi ao Templo conforme o costume. Não sendo ricos, ofertaram o mínimo previsto, um par de pombinhos: 4. A profecia de Simeão de dor para Maria e Jesus / A previsão de Ana da Redenção por Jesus.

Em novo sonho, o anjo preveniu José que Herodes queria matar o Menino Jesus e mandou-o levar a família para o Egito: 5. A dor do desterro para o Egito / A queda dos ídolos de seus pedestais. Após quatro anos, o anjo lhe avisa da morte de Herodes e do perigo de Arquelau, ordenando a volta a Israel: 6. A dor de não poder voltar para Jerusalém /A volta para Nazaré. De volta à pátria, a Sagrada Família, conforme a Lei, todos os anos vai ao Templo em Jerusalém para celebrar a Páscoa, e com 12 anos Jesus Se deixa lá ficar na volta – as caravanas eram separadas em homens e mulheres, e José e Maria criam que seu filho estava com o outro; assim, no terceiro dia de marcha, voltam aflitos a Jerusalém, encontrando-O no Templo a ensinar os doutores da Lei: 7. A perda de Jesus no Templo / O reencontro entre os doutores. Esta é a última vez que José é mencionado nas Sagradas Escrituras, e assume-se que faleceu antes de Jesus iniciar a Sua vida pública.

A missão de São José incluiu a proteção de Maria e Jesus, dar a Ele a descendência de Davi (necessário, para cumprir as promessas; segundo a Lei e perante a sociedade, José garante que Jesus é filho de Davi) e o nome próprio, educá-Lo e mantê-Lo, ensinar-Lhe um ofício. Dar-lhe o amor, a segurança e a orientação de um pai, como todo filho necessita. Por exercer esta indispensável providência, José (como Jesus e Maria) também tem uma imagem no Antigo Testamento, José do Egito, filho de Jacó, que proveu aos necessitados (“Ide a José, e fazei tudo que ele vos disser”, cf Gen 41,55).

A dignidade de José só está abaixo da de Deus e de Maria. A ele Deus confiou Suas riquezas: Jesus e Maria, portanto é o único homem à Sua altura, e por isso chamado na Bíblia de Justo, o que a Igreja entende como um grau máximo de santidade. Como esposo e pai adotivo, o chefe da Sagrada Família, a ele serviam e obedeciam a Mãe de Deus e o próprio Deus Encarnado, que quis obedecer-lhe. Assim como Nossa Senhora, José, por desígnio divino, recebeu a mais alta responsabilidade e honra possível a um ser humano, a guarda e o cuidado de Cristo Redentor, mas, também como Ela, disse livremente “sim” à sua missão; por isso é, de todos, o varão mais digno da humanidade.

Recebe deste modo o culto especial de protodulia (dulia é o culto devido a Deus, hiperdulia o devido a Maria), o primeiro a ser venerado na hierarquia dos Santos. É verdade que Jesus disse, “(...) de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”, o que significa que João, último representante da promessa do Antigo Testamento, é o maior dentre os antigos, mas, a partir da Encarnação, José está muito acima dele.

Santo Agostinho, Doutor da Igreja, compara os outros santos às estrelas, mas São José ao Sol. Ainda dois aspectos da dignidade de São José: o divino lar que ele dirigia com autoridade de pai foi o berço da Igreja nascente, pois Maria é Mãe de Jesus e portanto do Seu Corpo Místico; e une em si e na sua santidade tanto a realeza de legítimo sucessor de Davi quanto a humildade servil do trabalhador comum, algo que compartilha com o próprio Jesus. Reinar é servir, a Deus e aos irmãos.

Se Jesus recorreu a José, quanto mais nós, pecadores. Em outras palavras, quando José apresenta a Cristo a necessidade de algum devoto seu, Ele também no Céu obedece a Seu pai terreno, como obedece a Maria Sua Mãe, nossos dois maiores intercessores. Pois em função da missão e predestinação de São José e da Virgem Maria, que requeriam uma santidade total, Deus lhe concedeu todas as graças, e tem diante de Deus privilégios únicos. Isto foi revelado a Santa Águeda; e Santa Teresa de Ávila testemunha que nunca lhe pediu nada que não fosse atendido: ao contrário de outros santos, padroeiros de causas específicas, São José socorre em tudo.

A Igreja teve, portanto, extremo cuidado para que São José fosse honrado como convém. As mesmas indulgências, concedidas pela Igreja a quem faz com as devidas disposições o mês de Maria (maio), são concedidas a quem faz o mês de São José (março); como os sábados são dedicados a Maria, as quartas-feiras a são a ele; da mesma forma que há uma devoção especial às sete dores e aos sete gozos de Maria, há também uma devoção especial às sete dores e aos sete gozos de São José; da mesma forma que para Maria, existem para ele rosários, coroinhas ladainhas, orações, jaculatórias e hinos, a fim de honrá-Lo e invocá-Lo; a Igreja pede que se diga nas invocações “Jesus, José e Maria”, sem separá-los.

Embora os primeiros registros devocionais a São José sejam do ano 800, sua figura ficou escondida nos primeiros séculos do cristianismo, para que se firmasse melhor a origem divina de Jesus. Mas já na Idade Média São Bernardo, Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino lhe dedicaram tratados. Desde então, seu culto cresce continuamente, como deve ser.

Inúmeras são as exaltações a São José. Ele é padroeiro e guarda da Igreja Católica; padroeiro, intercessor, advogado e modelo das famílias cristãs, modelo para os pais; patrono dos carpinteiros, operários e trabalhadores, e da justiça social; patrono dos moribundos e das almas atribuladas; terror dos demônios, que dele fogem quando invocado; patrono de várias dioceses e lugares. Várias imagens veneradas de São José receberam uma coroação canônica por um Papa; seu nome está no cânon da missa, imediatamente após o da Virgem Maria; e tem seu nome nas três outras orações eucarísticas. A festa de 19 de março normalmente cai no meio da Quaresma, por isso a Igreja abre neste dia uma exceção litúrgica e celebra com paramentos brancos a sua festa, retirando o roxo penitencial.

 Em muitas imagens de São José ele carrega um lírio, símbolo da sua castidade e pureza, dom de quem vive unido a Jesus – “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Em antigas representações ele tem a aparência de um idoso, prática piedosa mas completamente errada e até perniciosa: São José foi casto por opção de santidade, como a Virgem Maria, e não por senilidade.